Gabriela Ely - Psicanalista
Atendimento online
Contato (via whatsapp) - (47) 991704064
Email - gabipsique@hotmail.com


terça-feira, 11 de junho de 2019

Não recuar diante da loucura*


            É o que nos alerta Lacan (1977). Apesar de Freud sugerir a impossibilidade de psicanalisar o psicótico, ele faz um minucioso estudo da escrita do presidente Schreber, e lança as bases para se pensar no trabalho com as loucuras.  Lacan vai mais longe e desde o inicio de seu ensino a psicose está em questão.
            Seguindo a orientação lacaniana me proponho a refletir sobre o que concerne a loucura nossa vivencia atual. O que percebo, a luz da psicanálise é que em nossa sociedade cada vez mais há o predomínio de movimentos segregatórios, onde o que prevalece é a intolerância ao outro. Não para menos, por essa via, a respeito aos ditos “loucos” é preciso mantê-los separados, a uma distancia segura e confortável.
            A via manicomial institui o universal, ao todos iguais, loucos e segregados. Cabe assim, medidas de intervenção generalistas que tem por efeito o silenciamento do sujeito. Esta via acredita que só o medicamento é suficiente e compreende a loucura pela via biológica, ou seja, pela determinação biológica. Considero o retorno aos manicômios um retrocesso na vertente do social, politico e clinico no campo denominado de saúde mental, pois já se havia progredido substancialmente na forma de lidar com a subjetividade e a loucura.
            A psicanalise convoca a que se possa subverter este movimento. Que toma valor especialmente pela acolhida do singular. Se para Lacan em seu último ensino todo mundo é louco, a questão está mais na loucura de cada sujeito, há maneiras de ser louco. Nesse caso a psicanalise está na contra corrente, pois promove a fala desde a dignidade da escuta, podendo advir um sujeito ali onde havia apenas meros corpos.
            Apoio o sistema ainda vigente de acesso universal a saúde, com dispositivos de assistência plurais que ainda sim possam acolher o singular de casa loucura. E, repudio os movimentos atuais de um governo autoritário que se afastam da democracia.


LACAN, J. Abertura da sessão clínica (1977). Recuperado 08/06/2018 http://www.traco-freudiano.org/tra-lacan/abertura-secao-clinica/abertura-clinica.pdf


*Texto produzido a partir da pergunta sobre a opinião da Psicanalista sobre o retorno aos manicomios.